domingo, 21 de fevereiro de 2010
Contrastar...
- Senta aqui.
- Não, aqui, tocando tecidos frios, estou bem aqui.
... Para longe, deslocando-me como um raio, lampejos de azul e branco em meio a árvores, ora real, ora não, fui. Passei a alvorada toda submersa, numa natureza oscilante, não sabia ignorar. Senti-me frouxa, covarde, trocando olhares mutuamente por incalculáveis minutos, o tumulto afora ficou calado e o sossego aniquilava-me. Estava a par que ao olhar aquela carcaça eu não conseguiria não desejar nada. Eu o desejava, e muito. Já o amara antes e o cálice fora grave demais para deixar assim, puramente, passar em branco. Eco. Estava hesitante, irresoluta e desabitada.
A noite anterior foi cansativa, afoguei-me nas lágrimas, agora, mais uma vez, quase chorando, só que por exaustão, dissipação. Só o que me vale é o devaneio, assim como a claridade febril. Nos dois próximos dias sei que desandarei e encontrar-me-ei, igualmente, nos braços do amante.
Fechei a bolsa. Subi os degraus. Abri a porta dos fundos e entrei em casa, enfim. Uma ducha.
A água do chuveiro corria e o vapor rodopiava, embaçando o espelho, nublando a noite de astros pálidos.
Carolina Pires Campos
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