Deixe-me gostar de você feito criança
porque descobri que é o único jeito
que consigo gostar de verdade,
sem confusão, sem hipocrisia.
Deixe-me gostar de você da forma mais simples,
sem porquês, sem perguntas, sem articulações.
Se eu ou você pensarmos muito
e nos colocarmos sob o crivo da razão,
teremos que ver entre as nossas qualidades
também os nossos defeitos.
Teremos que ver a treva que coabita com a nossa luz.
Então deixe-me gostar de você como criança.
Criança gosta sem pensar.
Deixe-me gostar de você sem cobranças,
sem compromissos que não sejam
aqueles que nós dois
estabelecemos para nós mesmos
e não aqueles que os homens inventam
que devemos seguir à risca,
toda vez que resolvemos gostar.
Deixe-me gostar de você
da forma mais inocente que eu puder.
Neste gostar permita-me descartar
toda a cultura, filosofia, modismos,
conceitos ou preconceitos, dogmas,
todo e qualquer mandamento
ou imposição que venham de fora.
Quero apenas ouvir meu coração,
assim como quero que você ouça o seu.
Se eu ficar com você um minuto,
uma semana, um mês ou um ano,
que seja pelo real prazer de ficar,
pois aprendi que não é a duração,
mas a qualidade que transforma
um único minuto numa experiência
com gosto de eternidade.
Deixe-me gostar de você sem expectativa,
sem planos para o futuro,
sem gaiolas que limitem o meu querer
porque o futuro é tão incerto
e nunca é do jeito que pensamos.
Se nos gostarmos de verdade,
é possível que haja muitas ações no presente,
e é só isto o que verdadeiramente importa.
Acima de tudo,
deixe-me gostar de você deixando-o
completamente livre para ficar ou para partir.
Deixe-me gostar de você sem máscaras e sem verniz.
E se um dia eu disser adeus e partir,
creia, será no exato momento
em que eu descobrir que já não sou
mais capaz de me fazer ou de lhe fazer feliz.
_Fátima Irene Pinto _
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