"Hoje acordei para ser feliz, nada menos que isso."

terça-feira, 23 de março de 2010

Era isso que os alimentava...



Um arquitetar de um futuro nulo, no mínimo distante.
Eles sabiam que não se veriam mais após aquele amanhecer
em que entrelaçaram as pernas na cama daquele imenso hotel
onde passaram juntos incansáveis noites cáusticas no inverno.
Foi a última vez que puderam gozar dos encantos vedados um do outro.
Ela disse adeus.



Ele - Se vamos nos deixar desse jeito...

Ela - E será que ainda me queres?

Ele - Demonstrar a tua insegurança assim não vai ajudar.

Ela - Não estou a demonstrar inseguranças, estou falando o que acho.
Não tem como ficar insegura, nem segura de nada.
Só se tem como ficar segura ou insegura de algo,
quando esse algo é um algo definido, e o nosso algo realmente não tem definição.

Ele - Se não tem definição, é único.

Ela – E é isso que mais me afronta.

Ele – O que você quis dizer com isso?

Ela – Nada. Saiu. Simples assim, saiu.

Ele – Fale!

Ela - O que me afronta é ter um algo que não sabemos definir.
Sabemos que não nos esquecemos, que ainda nos amamos.
Agora saber que é único é assustador, porque é justamente por isso,
por ser único, que não conseguimos nos livrar um do outro.

Ele – Você é invisível?

Ela – Às vezes gostaria de ser.

Ele – Fale a verdade.

Ela – Ficar na sua mente e dominá-la...

Ele – Você o faz fora dela. Incrível, não?

Ela – Você me criaria com todas as formas e cores que quisesse...

Ele – Não mudaria nem um centímetro.

Ela – E eu sempre estaria ali.

Ele – [silêncio]

Ela - Para quando se sentisses sozinho,
era só me imaginar que eu apareceria e te amaria infinitamente,
pois eu seria o fruto da sua imaginação, eu seria você.
Você se amaria e eu ali, criada, existente ou não,
seria a mulher mais feliz do mundo.

Ele – [silêncio]



Ela - Adeus.





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