"Hoje acordei para ser feliz, nada menos que isso."

terça-feira, 23 de março de 2010

Eu... *



"Eu sou lúcida na minha loucura,
permanente na minha inconstância, .
inquieta na minha comodidade.
Pinto a realidade com alguns sonhos,
e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer
não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo,
sempre menos do que sou capaz.
Busco pelo prazer da paisagem
e raramente pela alegre frustração da chegada.
Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais.
Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo.
Nem eu sou o que penso que eu sou.
Nem nós o que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia,
embora os dias me iluminem quando nasce o sol.
Trabalho sem salário e não entendo de economizar.
Nem de energia.




Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta,
devo mais do que ganho.
Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços.
Não vou à missa. Nem faço simpatias.
Mas, rezo pra algum anjo de plantão
e mascaro minha fé no Deus do otimismo.
Quando é impossível, debocho.
Quando é permitido, duvido.
Não bebo porque só me aceito sóbria,
fumo pra enganar a ansiedade
e não aposto em jogo de cartas marcadas.
Penso mais do que falo.
E falo muito, nem sempre o que você quer saber.
Eu sei. Gosto de cara lavada —
exceto por um traço preto no olhar —
pés descalços,




Nutro uma estranha paixão por camisetas velhas
e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.
Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes,
sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento,
não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez.
E note bem: não sou agressiva, mas defensiva.
Impaciente onde você vê ousadia.
Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer
em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros.
Estranhos desertos.
E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana,
dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo."





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